Confesso que não aguento mais conteúdo (ruim) sobre a Geração Z. É uma corrente eterna: alguém posta, metade da internet reage, a outra metade xinga, aí alguém como eu acha que tem algo ~final~ a dizer e pronto, contribui com mais uma rodada. Ironia do destino ou só reflexo de que essa pauta não morreu?
Já li de tudo: "Eles não têm resiliência." "Não querem trabalhar." "Não sabem ouvir feedback." "Ficam ofendidos por tudo." E, claro, a clássica: "É a primeira vez na história que temos cinco gerações convivendo no trabalho" como se, até ontem, a humanidade fosse formada por uma geração de cada vez, sem crianças, idosos ou jovens misturados nos mesmos espaços. Quem estava trabalhando antes? Essa eu nunca entendi.
Parece que alguns internautas amam esse tipo de conteúdo e quem mais compartilha não é a Gen Z, e sim os mais velhos, que caem na armadilha de repetir o padrão das gerações anteriores: falar mal do jovem como forma de confirmar que "no meu tempo é que era bom".
Aqui vou partir do princípio que você já sabe quem é quem nas tretas das gerações e não vou repetir ainda mais dados óbvios. O que quero abordar nesse texto é: o que esse tipo de post e o alto engajamento que vem junto revelam (e o que eles escondem)?
A Geração Z já está pagando boleto (eles odeiam que a gente fale isso) e liderando time.
Em 2023, a Subversiva lançou o report “É a geração Z que não está preparada para o mercado de trabalho ou é o mercado de trabalho que não está preparado para ela?”. Era uma provocação e continua sendo. Porque desde então, pouca coisa mudou.
Passei boa parte de 2024 vendo esse looping em câmera lenta: o post viral da semana reclamando de estagiário no TikTok, o textão no LinkedIn dizendo que a geração Z não sabe o que é hierarquia etc. Dados novos surgem (geralmente sem recorte latino, de classe, racial, regional, etc), as conclusões seguem duvidosas e a reação se repete.
A pergunta que fica é: vamos atravessar 2025 nesse looping?
A Geração Z já está com quase 30 anos. Já lidera equipe. Já sente o peso das decisões. Já entra nas conversas de orçamento. Sinto informar: já foi. Eles estão em todos os lugares.
E sabe o TikTok que era motivo de piada entre os mais velhos? Hoje é uma das redes sociais mais influentes do mundo, com mais de 1 bilhão de usuários ativos e um faturamento anual que ultrapassou os 40 bilhões de dólares em 2023.
Gostar tanto de colocar energia neste debate de gerações talvez esteja servindo a outra coisa (agora vem a parte que me interessa)
Me parece que tem algo confortável em transformar a Geração Z no "problema". Funciona como uma cortina de fumaça: enquanto falamos deles, não olhamos pra nós. Não olhamos pros nossos padrões de trabalho que talvez estejam ultrapassados. Não olhamos pro modelo de gestão que está em crise. E que as lideranças talvez só estejam perdidas como boa parte de nós está em 2025.
Enquanto reclamam que a Gen Z não sabe trabalhar, seguimos fazendo reuniões sem pauta, definindo metas sem critério e avaliando desempenho com base em 'feeling'. Difícil levar os “adultos” a sério né galera?
Nesse meio tempo vamos adiando as conversas difíceis que precisamos ter:
Pauta saúde mental bombando
Bateção de cabeça com IA
Programas de diversidade retrocedendo
Recordes de depressão e burnout no Brasil ano após ano
Apontar falta de resiliência na geração Z enquanto as pesquisas mostram que somos o país mais ansioso do mundo talvez diga mais sobre a nossa própria falta de autocrítica do que sobre eles.
Em vez de mais um post sobre Gen Z, que tal uma conversa séria sobre temas urgentes? E junto com isso: precisamos construir estratégias que ajudem as gerações a se entenderem e colaborarem de verdade, aproveitando o que cada uma tem de melhor.
Historicamente, é com as novas gerações que chega o espírito do tempo. O que estamos perdendo quando excluímos os jovens?
Duas perguntas pra refletirmos:
Quem está falando mal da Geração Z? Qual perfil dessa pessoa ou mídia?
Será que falta repertório para lidar com quem pensa diferente?Pergunta à liderança: você contrataria a si mesma com 23 anos, com todas aquelas certezas e questões típicas da idade? Que jovem nasceu sabendo?
Referências de aprofundamento no tema:
▌ Report: É a geração Z que não está preparada pro mercado de trabalho?
▌ Matéria na Folha: Como trabalhar melhor com a Geração Z
▌ Texto na Mina Bem-Estar: Gen Z não quer ser chefe
▌ Podcast Café da Manhã sobre Gen Z
Obrigada por me ler, como está o tema de gerações na sua empresa? Me conta nos comentários?
"PRECISO QUE ALGUÉM FALE ISSO NA MINHA EMPRESA"
Na Subversiva, através de palestras, workshops e consultoria, abordamos temas como:
Gerações e desafios no ambiente de trabalho
Futuro do trabalho
Liderança e cultura
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